O Brasil é famoso por uma carga tributária alta e com um retorno paupérrimo ao pagador de impostos e à sociedade em geral. Corrupção, negligência, incompetência, burocracia. Nós, infelizmente, conhecemos bem essa história. No entanto, se serve como um mínimo de consolo, existem leis — federais, estaduais e municipais — que permitem que empresas e pessoas físicas escolham projetos culturais para financiarem, em troca de abatimento de uma pequena porcentagem do imposto de renda.
De forma simplificada, é assim que funcionam as leis de incentivo à cultura no país, uma alternativa que vinha sendo explorada timidamente pelo mercado da música eletrônica, e pode vir a se tornar uma importante aliada para artistas nesse momento tão difícil e incerto que vivemos há um ano.
Sim, a Lei de Incentivo à Cultura (antes conhecida como a polêmica Lei Rouanet), de nível federal, é a mais famosa delas, e gera há muitos anos acirrados debates políticos e ideológicos em torno de sua utilidade e eficiência — afinal, muitos peixes grandes, que poderiam bancar seus projetos artísticos do próprio bolso ou captar patrocínio com certa facilidade, acabam sendo alguns dos principais beneficiados (fala a verdade: as palavras "Claudia" e "Leite" estranhamente acabam de pipocar na sua mente, não?). Mas esta é uma reflexão para outro dia.
O ponto aqui é que a esmagadora maioria dos DJs e produtores brasileiros, assim como basicamente qualquer artista que não tenha alcançado um sucesso em grandes proporções, está passando por dificuldades desde que o termo "Covid-19" virou essa palavrinha infame tragicamente presente no nosso dia a dia. O setor artístico é o primeiro a fechar e o último a abrir, sobretudo, quando estamos falando de pistas de dança, e o auxílio emergencial acaba, em vários casos, sendo a única (e insuficiente) saída.
Provavelmente, correr atrás de editais é uma coisa que mal passa pela cabeça desse pessoal. Pela dificuldade que é submeter um projeto dentro dos conformes, mas, principalmente, pela tarefa hercúlea que é — ou parece ser — conseguir ser selecionado fazendo "música de nóia". Porque, né? A gente sabe muito bem do estigma que a música eletrônica sempre carregou no país.
A boa notícia é que esses horizontes estão mudando. Os últimos dez anos foram muito importantes pra colocar a música eletrônica em outro patamar no país e na percepção dos cidadãos brasileiros — seja ela mais pop ou mais cabeçuda. E o exemplo mais recente que temos disso é o lançamento de "Aufklärung", EP de techno do DJ e produtor catarinense Bucci Carlos, que vive entre a ponte aérea Blumenau–Berlim.
Assinado pela Konsep Records, gravadora do próprio artista em conjunto com Ciclus e Zeca Hess, o EP (cujo nome se refere ao iluminismo e é recheado de conceito) traz seis faixas e foi viabilizado em Blumenau pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (14.017/2020), que foi sancionada em junho do ano passado justamente para ajudar a classe artística de todo o Brasil durante a pandemia.